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Novo Desarmamento

11/04/2011

Assim como crimes atrozes reacendem discussões sobre o aumento do rigor penal, o acontecimento da última semana, o massacre na escola de Realengo, desencadeou uma nova gritaria pelo desarmamento.

Em um dos primeiros episódios de American Dad!, série do politicamente incorreto Seth MacFarlane, Hayley Smith, ativista em favor do banimento das armas de fogo e filha do personagem principal, Stan Smith, tem um debate com seu pai, com o argumento de que armas matam pessoas. Ele, então, coloca sua pistola sobre a mesa e ordena que a pistola mate alguém. E com esse irrefutável argumento, declara-se vencedor do debate.

Realmente, as armas de fogo, por si mesmas, não ceifam vidas. Porém, sem dúvida, são um meio extremamente eficaz para fazê-lo. Afinal, elas são um instrumento criado com este objetivo: matar. Tanto que um dos modos de classificá-las é pelo quesito de letalidade. Até as munições não letais (“menos que letal” é a terminlogia em inglês) podem matar se inapropriadamente utilizadadas.

Entretanto, querer fazer acreditar que as ações de um lunático são consequência da existência de armas de fogo é escolher um caminho que foge da raiz do problema.

Wellington Menezes, pelos relatos, sempre foi “diferente” desde a infância. Em 23 anos de vida, ninguém, até onde se sabe, apontou que ele precisava de ajuda especializada ou procurou buscá-la. Pais, demais parentes, professores, até vizinhos e conhecidos, todos têm sua parcela de culpa. Essa era de individualização a que muitos se referem parece ter chegado ao ponto em que não se é capaz de olhar para outro ser humano, ver que algo está errado e tentar ajudar de alguma forma.

Humilde, não parece possível que ele ou sua família poderia bancar um tratamento psicológico e, aí, o problema seria a ineficiência do Estado em cuidar dos necessitados. Mas, quem sabe, um pouco de atenção dos que o tinham por perto, fosse suficiente para prever/evitar o que aconteceu. Um pouco de afeição pode mudar muita coisa.

Não foi o acesso a uma arma de fogo que desencadeou o ataque. A arma foi o meio para uma insana vingança contra o mundo. Sem uma arma, talvez ele pesquisasse na internet a manufatura de uma bomba e explodisse a escola. Bradariam pelo fim da internet? Ou ele poderia envenenar a comida no refeitório. Baniriam todos os produtos químicos? Não. Da mesma forma que ninguém tem lutado pelo fim dos automóveis após o atropelamento de ciclistas em Porto Alegre ou o atropelamento intencional de uma mulher divorciada em Florianópolis.

Mesmo com a proibição das armas de fogo, é certo que os transgressores da lei não entregariam as suas. O mundo do crime não se arma com as armas dos cidadãos que as têm para sua proteção e, por vezes, as perdem em furtos e roubos. O crime se arma pelo tráfico de armamentos que as autoridades são incapazes de combater. Isso, quando muito pior, não são coniventes ou partícipes diretas. Ou seja, o simples banimento das armas no território nacional não resolveria o problema, mas, sim, tornaria o mercado negro muito mais rentável.

O banimento das armas poderia evitar os homicídios banais que acontecem por brigas de trânsito, discussões acaloradas, mas, mesmo assim, não os extinguiria por completo.

E é repugnante a hipocrisia daqueles que defendem a proibição, mas não abririam mão das suas armas ou de andar com seguranças armados.

Um rígido controle das armas é imperativo. A exigência de testes psicotécnicos, inexistência de registros criminais e outros requesitos é válida e necessária, além da aplicação rígida da lei pela posse e porte de armas ilicitamente.

Se algum dia se chegar a um utópico mundo em que as armas não mais serão necessárias, excelente. Até lá, que as regras sejam claras e a fiscalização severa. No mais, é aproveitar os cadáveres de doze crianças para aparecer.

“As armas, por serem instrumentos de mau agouro, não são ferramentas das pessoas cultas, que só as usam quando é inevitável.” (Tao Te Ching)

3 Comentários
  1. Por mais que enriquecessem o mercado negro, se tornariam mais banais, as armas, com o “desarmamento”.
    Hoje, ter uma arma fria é mais evitado do que seria com uma medida dessas. O cidadão que teria uma arma, deixa de tê-la por ser de [i]difícil regularização[/i]. Com o desarmamento, por ser a regularização absolutamente impossível, o cidadão que pensa em ter uma arma já vai partir da impossibilidade de tê-la, e transgredir vai ser a única forma de atingir esse fim. É mais fácil transgredir assim.
    No fim das contas, quando a justiça se deparar com alguém que realmente portava uma arma para se defender, visto que não havia meio de essa arma ser legalizada, o porte de arma vai, paulatinamente, passar a se tornar algo menos grave, e no fim se banalizar por completo.

  2. Cara, excelente texto.
    Parabéns. =]

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